Nos últimos anos, o Brasil tem presenciado um expressivo crescimento no número de ações trabalhistas. Embora muitos tentem apontar culpados específicos — como os próprios trabalhadores ou os advogados especializados — a realidade exige uma análise mais profunda. A chamada análise sistêmica surge, nesse contexto, como uma poderosa ferramenta para entender o fenômeno sob uma ótica mais ampla e realista.
O sistema da Justiça do Trabalho e seu papel ativo
Tradicionalmente, a Justiça do Trabalho tem sido vista como um elemento passivo, que apenas julga os conflitos quando acionada. Contudo, sob a ótica sistêmica, ela é compreendida como parte de um ecossistema dinâmico. Ou seja, suas decisões influenciam diretamente o comportamento das empresas e dos trabalhadores, e, por sua vez, reagem a esse comportamento.
Dessa forma, quando observamos o aumento constante de processos, é preciso considerar que o Judiciário pode estar refletindo desequilíbrios maiores dentro das relações de trabalho — muitas vezes causados por práticas empresariais pouco alinhadas com a legislação.
Empresas e a responsabilidade pelo desequilíbrio
Apesar da frequente retórica que coloca a Justiça como onerosa ou punitiva, é imprescindível destacar que muitas empresas ainda adotam posturas de risco, agindo como se a legislação fosse apenas uma sugestão — e não uma obrigação. Não raramente, há quem enxergue ações judiciais como parte do “custo operacional”, negligenciando os direitos dos trabalhadores e apostando na baixa judicialização ou na morosidade dos tribunais.
Esse comportamento, além de antiético, contribui diretamente para o aumento das ações trabalhistas. Afinal, quanto mais comum se torna o desrespeito às normas, maior é o número de empregados que recorrem ao Judiciário para garantir o que lhes é devido.
Caminhos possíveis para a reversão do cenário
Diante desse panorama, é fundamental pensar em soluções estruturais. Para começar, as empresas precisam deixar de ver a Justiça do Trabalho como um inimigo e passar a enxergá-la como um elemento de equilíbrio. A adoção de boas práticas de governança trabalhista é essencial — isso inclui:
- Auditorias preventivas;
- Treinamentos constantes para lideranças;
- Canais internos de denúncia e diálogo;
- Revisão periódica de contratos e jornadas.
Além disso, cultivar uma cultura organizacional baseada na ética e na valorização das pessoas é um diferencial competitivo. Quando o ambiente de trabalho respeita direitos e estimula o cumprimento das normas, os conflitos tendem a diminuir significativamente.
Portanto, entender o crescimento das ações trabalhistas no Brasil exige mais do que análises superficiais. É preciso adotar uma visão sistêmica, que leve em conta o comportamento de todos os agentes envolvidos. Só assim será possível construir relações de trabalho mais justas, equilibradas e sustentáveis a longo prazo.
Fonte: Consultor Jurídico – Conjur